POEMA IMPLÍCITO

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O que a vida nos faz

Supor esteja atrás dos objetos.

A presença do oculto,

O que a fotografia não nos diz

As coisas

Que não chegou a me dizer Lenora

A que foi

Morar no reino dos pássaros mudos.

E que mais me feriram justamente

Porque não chegaram a ser ditas.

Os gritos, esculpidos na boca

Das figuras de pedra.

Tudo o que é implícito.

Tudo o que é tácito.

 

Não gosto dos explícitos

Gosto dos tácitos.

Daqueles que me dizem tudo

Sem me dizer uma única palavra

Não amo os lógicos,

Os socráticos.

Amo os lunáticos,

Os de cabeça virgem

E lírica.

Não amo os pássaros que cantam.

Amo os pássaros mudos.

 

Cassiano Ricardo (A face perdida, 1950)