Iconomia - A Economia da Cibercultura: dois pontos

 

Da conversa* que tive com o Gilson ontem à noite, extraio dois pontos:


1) Iconomia, título da Domingueira de 31 de agosto, não é um lapso de escrita.


É o nome de uma disciplina que se propõe a estudar a economia da cibercultura e, de forma mais ampla, a economia dos ícones. Como qualquer disciplina, procura delimitar seu objeto, sua especificidade e esclarecer as leis do seu funcionamento. Seu objeto é o ícone - referência à semiótica e à cibernética - que associa imagem, representação, marca e valor econômico. O logo de uma empresa, a grife, os cartazes publicitários, o aroma especial de um perfume, o second life podem ser ícones.


Produtos do capitalismo avançado, proliferam e se difundem na sociedade do espetáculo, hiperconsumista, por uma rede de mídias. Há uma economia organizada para produzir, circular, consumir, lucrar com os ícones. São objetos de consumo, do desejo, capazes de promover um plus econômico e de satisfação. Condensam propriedades imaginárias simbólicas e reais.
Cabe a Iconomia estudar não somente o ícone em si, mas também sua produção, circulação, destinos, efeitos econômicos, intersubjetivos e subjetivos.



2) A cibercultura é uma das formas do Outro contemporâneo.


Ela não tem um centro de poder, é plural, e não se baseia em um modelo vertical, mas transversal. É um Outro inconsistente que possibilita uma interconectividade generalizada, reticular e, portanto, novas formas do laço social. Ele produz e veicula múltiplos e sucessivos objetos de desejo e programas para obtê-los. Se o significante é o que representa um sujeito para o outro significante, o ícone é o que representa o objeto de desejo/gozo para um sujeito. Tem esta propriedade de capturá-lo, de siderá-lo por um tempo. Até o próximo. Ele paga para usufruir da satisfação que o ícone promete. É sua vertente econômica, libidinal. A rede parece organizada em torno deste objeto mas, no fundo, se organiza em torno de um buraco. Atrás do objeto há um buraco - a falta de objeto, a falta do objeto que produziria a satisfação - que movimenta incessantemente a rede. É a 'causa' da rede e para onde ela se dirige. O ícone aproxima-se do objeto a lacaniano, objeto do desejo, causa do desejo e mais de gozar.



Prossseguiremos a conversa na Domingueira



* mini entrevista de Gilson Schwartz para Ariel Bogochvol, em 27/8/2008.